A velhice sempre tem acompanhado a humanidade como uma etapa inevitável de decadência, declinação e antecessora da morte. A palavra velhice é carregada de significados como inquietude, fragilidade, angústia.
O envelhecimento é um processo que está rodeado de muitas concepções falsas, temores, crenças e mitos. A imagem que se tem da velhice mediante diversas fontes históricas, varia de cultura em cultura, de tempo em tempo e de lugar em lugar. Esta imagem reafirma que não existe uma conceção única ou definitiva da velhice mas sim conceções incertas, opostas e variadas através da história.
Para os Babilónios a imortalidade e como conservar a juventude estiveram muito presentes. A Grécia Clássica relegava os velhos a um lugar subalterno e a beleza, a força e a juventude eram enaltecidas. Platão trouxe uma nova visão onde a velhice conduziria a uma melhor harmonia, prudência, sensatez, astúcia e juízo. Na sociedade romana os anciãos tinham uma posição privilegiada. O direito romano concedia a autoridade de “pater famílias” aos anciãos. Quanto mais poderes lhes eram concedidos, mais a ira de novas gerações se voltava contra os velhos.
A República Romana também conferia cargos importantes no senado aos anciãos como “patrícios”. A imagem negativa da velhice foi combatida por Séneca mas foi em Cícero, com sua obra “ A Senectude” que a velhice encontrou o seu maior defensor. Nas sociedades orientais o ancião era símbolo de longevidade, sabedoria e experiência, o mesmo acontecia nas culturas Incas e Aztecas, onde os mais velhos eram tratados com muita consideração. No período do Cristianismo verificou-se uma imagem negativa da velhice associada à decrepitude. No séc: XVI existe a mesma imagem negativa da velhice, exultando-se a beleza e a juventude, Erasmo de Roterdão escreve nesta época ”O Elogio da Loucura” que concebia a velhice como uma carga e a morte como necessária. Ele considerava que a loucura era o único remédio contra a velhice.” Só os loucos são felizes”.
No final do século XIX os avanços da medicina propiciaram a divisão de velhice e enfermidade. Com os progressos da ciência começam a verificar-se mudanças relativamente aos mitos do envelhecimento.
Os mitos que permanecem a respeito da velhice, prejudicam o bom envelhecimento e dificultam uma inserção dos velhos na sociedade.
Paralelamente às alterações físicas e psicológicas que ocorrem na terceira idade, estão, associadas as transformações ao nível dos papéis sociais, exigindo a adaptação do idoso às novas condições de vida (Figueiredo, 2007). Segundo Fontaine (2000), o envelhecimento social refere-se ao papel, estatuto e hábitos da pessoa relativamente aos membros da sociedade. O envelhecimento social tem a ver com os papéis que são exigidos pela sociedade em o indivíduo está inserido (Rossel et al., 2004) pois diariamente o idoso confronta-se com os fantasmas do envelhecimento, que o atormentam e se traduzem no medo da solidão, do desconhecido e da morte (Duarte 2002). Esses fantasmas surgem como resultado de ideias pré-concebidas e erradas sobre a velhice (Papalia, & Olds 2000).
Por isso, a sociedade contemporânea vê-se a braços com a necessidade de promover estratégias de inclusão dos mais velhos na sociedade, compete também aos governos munirem-se de estratégias que dinamizem e rentabilizem as capacidades dos idosos. A exclusão dos mais velhos pode ter uma origem social ou financeira. A exclusão social prende-se com a perda de laços sociais e a financeira com a perda de rendimento para fazer face às necessidades do dia a dia. Na Europa verifica-se com maior frequência o afastamento social, a desfiliação ao meio onde está inserido, enquanto que em países da América latina se verifica uma exclusão assente na carência de recursos, pode haver idosos em situação de pobreza relativa e outros numa situação mais sombria de pobreza absoluta.
O envelhecimento apesar de ser uma conquista civilizacional deixa os países que se vêem a braços com uma elevada taxa de envelhecimento desenvolver mecanismos de defesa e assegurar os direitos que lhes são inerentes(idosos) de acordo com a Carta Universal dos Direitos Humanos. A ONU desenvolveu uma Assembleia Mundial com o propósito de alertar a consciência para a necessidade do respeito incondicional pelos direitos dos idosos.
Toda a sociedade necessita de ser educada e debruçar-se acerca dos valores que devem nortear a atuação das entidades competentes e dos cidadãos que a integram. A criação de políticas públicas sociais são essenciais ao bem- estar e integração dos idosos na sociedade, contudo também a sociedade civil adotar uma postura interventiva e participativa com vista a minimizar as situações mais problemáticas e aqui o estado deve participar socialmente no bem estar do idoso.
A evolução das relações entre gerações, bem como a produção e a institucionalização de medidas especificamente orientadas para a velhice passou a designar-se por politicas de velhice, entendendo-se estas como “o conjunto de intervenções públicas, ou acções colectivas, cujo objectivo consiste em estruturar de forma explícita ou implícita as relações entre a velhice e a sociedade” (Fernandes, 1997).
As associações têm também um papel ativo na promoção do bem - estar e na resolução de casos mais degradantes e de exclusão dos idosos, podem criar condições que favoreçam mudanças que venham a beneficiar a população idosa.
Além do projeto de vida individual que o indivíduo constrói em torno de si próprio, o facto de ter ou não uma vida digna não depende só de si próprio, mas da sociedade que os acolhe. De acordo com o excerto de um texto de António Barreto, que melhor me parece enquadrar-se às consequências do envelhecimento da população portuguesa ou de qualquer outra: “ (…) Conhecemos, neste século, mil e um progressos: culturais, políticos, sanitários, tecnológicos e de bem-estar.
Mas, num caso, talvez num só, o dos idosos, conhecemos mais regressos e crueldade do que progressos. As gerações activas separam-se dos seus idosos de modo irreversível. A sociedade está organizada para quem produz…”.
Assim sendo, o envelhecimento é um desafio que se coloca às gerações que devem potenciar a integração, inclusão e respeito dos direitos fundamentais do individuo e de acordo com o documento fundamental de cada nação.
BIBLIOGRAFIA
GIDDENS, Anthony, Sociologia, 2002
https://www.ufrgs.br/e-psico/subjetivacao/tempo/velhice-texto.html (acedido em 10-03-2014)
NETTO, Matheus Papaléo. (1995) O Estudo da Velhice no Século XX: Histórico e termos Básicos.
BARRETO, António (2000)“Os Velhos”, in www.projectotio.net
PAPALIA, D.E. & Olds, S.W., (2000), “Desenvolvimento Humano”, Porto Alegre: Artmed;
FIGUEIREDO, L. (2007) “Cuidados familiares ao idoso dependente”, Lisboa, CLIMEPSI – Editores
FONTAINE, R. (2000), “Aspectos psicológicos” – Envelhecimento, Lisboa: Climepsi, Editores
SOEIRO, Maria dos Anjos Santos (2010) Envelhecimento Português. Desafios Contemporâneos. Políticas e Programas Sociais: Estudo de Caso. Repositório da Universidade Nova de Lisboa